Onde tudo começou o envolvimento com o agronegócio – Minha trajetória no Curso Técnico em Agropecuária
Texto gerado pelo autor do blog
Meu envolvimento com o agronegócio começou de forma inesperada, durante a metade do oitavo ano do primeiro grau.
Na metade do oitavo ano do primeiro grau meu irmão Rafael me chamou para conversar e dar algumas ideias o que eu gostaria de estudar no segundo grau.
Disse que gostava de animais, então me sugeriu estudar no colégio agrícola La Salle no município de Xanxerê.
Sempre tive a residência na cidade e não havia nenhum conhecimento do meio rural, para mim foi começar tudo do zero. Nem sabia o que era um pé de feijão ou saber como era uma vaca de leite.
Logo conversei com a minha mãe para ir ao colégio agrícola para ver como era o estudo.
Em uma tarde de sábado visitamos o colégio agrícola e fomos pedir informações para fazer matricula para o responsável.
Diretor Irmão Anibal Thiele disse que as matriculas já haviam se encerradas. Minha mãe nada satisfeita com a resposta, foi conversar com um amigo de trabalho bioquímico e professor do colégio La salle Ney Fachinelo. Professor fez um pedido ao diretor por uma vaga para me matricular na escola.
Então em Fevereiro de 1997 começou a trajetória.
A mudança foi drástica. Tudo era diferente: o lugar, as pessoas, a rotina, a comida, o clima. A primeira semana foi extremamente difícil.
Todos os turnos matutinos, tínhamos aulas teóricas; no turno vespertino, trabalhávamos até as 17 horas. Após retornava para o banho para estar pronto para as aulas periodo noturno e o jantar
Era uma rotina intensa e cansativa, que me marcou profundamente.
Entrávamos no colégio às segundas-feiras de manhã e só saíamos nas sextas às 11 h. Nos fins de semana, alguns alunos precisavam ficar de plantão para manter os trabalhos em andamento.
No primeiro ano, além das disciplinas do ensino médio, estudávamos matérias técnicas como Zootecnia 1, Ovinocultura, Avicultura e Agricultura (trabalhos em estufas e plantio de morango). Foi o ano mais difícil, principalmente pela transição radical.
Trabalhei inicialmente no setor de gado, onde precisava cortar e fornecer pasto, arrumar cercas, cuidar de ovelhas, limpar instalações, entre outras tarefas. Era fisicamente exaustivo, principalmente para mim, que era magro, e franzino e sem nenhuma experiência anterior com trabalhos braçais.
Lembro que, ao trabalhar com cana-de-açúcar e capim-elefante, meu companheiro fazia 60% do esforço e eu apenas 40%, devido à dificuldade física.
Muitas vezes eu dormia nas aulas vespertinas e matutinas de tão cansado que estava, mas nunca desisti.
Após o primeiro semestre, fui para o setor da agricultura, onde trabalhávamos em diferentes áreas conforme a necessidade: bovinos, psicultura, estufa, erva-mate, colheita de feijão, entre outros. Permaneci três semestres nesse setor.
A diversidade de tarefas foi um aprendizado valioso sobre o funcionamento de uma propriedade rural.
Antes de começar o inverno, brincadeiras e provocações por ser “magrinho” aumentaram, e o comentário era que eu não iria passar o inverno, mas me mantive focado.
Às quartas-feiras à noite tínhamos tempo livre — alguns tocavam violão, jogavam futsal ou simplesmente conversavam. Às 22h era o toque de silêncio e às 6h do dia seguinte começava tudo novamente.
No primeiro ou no segundo ano tínhamos uma tarefa um pouco mais árdua: tínhamos que fazer o trato das vacas as 4 horas da madrugada.
Eram sempre quatro alunos por mês para este trabalho. Caso não participasse no primeiro ano se fazia parte no segundo ano um aluno por mês como um supervisor dos alunos do primeiro ano.
Eu por azar peguei bem no inverno do mês de junho de 1997. Dias muito frio e tenso em trabalhar em um setor ao ar livre. Por mais que se usavam luvas, as mesmas molhavam e se congelava dos dedos.
Nunca vou esquecer de um dia em que estávamos trabalhando e um dos irmãos lassalistas apareceu do nada no local: Olhou para nós e começou a contar: 1, 2, 3, 4… e falou hum que coisa ei sempre foi cinco meninos aqui.
Onde está o quinto menino? Nós ficamos sem graça e perdidos, fomos obrigados a dizer que o supervisor do segundo ano não compareceu, ficou dormindo né…Imagino que o chinelo comeu bastante naqueles dias para o nosso amigo.
No segundo ano, as disciplinas aumentaram em complexidade, incluindo Espanhol e matérias técnicas como Zootecnia 2, Suinocultura, Agricultura (melancia e citros) e Psicultura. O trabalho tornou-se mais técnico e um pouco
menos braçal. Nesse ano, surgiram alguns desentendimentos com os alunos do terceiro ano, que tinham certa autoridade sobre nós. Algumas cobranças exageradas resultaram em brigas, punições e até advertências escritas.
O terceiro ano trouxe um nível ainda mais elevado de exigência acadêmica. Tivemos matérias como Extensão Rural, Construções Rurais, Máquinas Agrícolas, Cereais (milho, soja, feijão, trigo), Zootecnia 3 e uso de defensivos
agrícolas. O trabalho prático foi diminuindo, dando lugar a uma abordagem mais técnica e especializada.
Ao final do ano, chegaram os temidos exames. Para minha surpresa — e a de muitos colegas — fui aprovado direto em Zootecnia 3, sem recuperação. O professor Gerson Luiz Tonial, médico veterinário, ficou emocionado, pois sabia da minha trajetória e da evolução que tive desde o início, quando eu não sabia nada do meio rural. Foi um reconhecimento que me marcou muito.
Colegas ficaram muito surpreso em eu ter passado sem exame naquela matéria, e o falatório era isso não é verdade.
Durante esses três anos, pensei várias vezes em desistir e voltar para um colégio comum. Mas entendi que cada sacrifício fazia parte de um processo de transformação. Nunca fui um aluno de notas altas, mas sempre mantive o foco em aprender o suficiente para me tornar um profissional competente.
O Colégio Técnico em Agropecuária me ofereceu mais do que conhecimento técnico. Foi uma verdadeira escola de vida, onde aprendi que nada vem fácil, mas que tudo tem um propósito. Essa base me preparou para o futuro, inclusive para uma das experiências mais marcantes: o estágio final, que ocorreria no ano seguinte.
Na escolha do estágio, optei por algo que poucos imaginavam possível: trabalhar com bovinos de leite nos Estados Unidos. A descrença por parte dos colegas foi grande. Faziam piadas, riam, achavam que eu não conseguiria.
Mas algo dentro de mim dizia que era possível.
O dia em que o Mário Yamachiro descendente de japonês supervisor da IFFA empresa responsável em nos guiar para o estágio, compareceu no colégio para realizar a entrevista. Um momento muito tenso em que daria um passo muito importante na minha vida.
A maioria dos colegas do colégio duvidavam que eu iria fazer estágio fora do Brasil, e davam risada e faziam piada da minha pessoa.
Foi então no dia da entrevista o Professor das Luiz Roberto Bortoncello, me encontrou no corredor indo para a sala e me disse: se você quer alguma conquista, você precisa ter fé em Deus que um dia você consegue, de alguma maneira você chega lá.
Isso me deu tanta confiança; crei uma própria frase: vou provar a todos que fazer estágio nos Estados Unidos não é impossível e pé na tábua.
Em outro momento vou fazer um texto sobre o estágio nos Estados Unidos.

Foto retirado do site: https://www.lasalle.edu.br/agro/sobre-o-colegio/noticia-detalhe/15145
Um agradecimento aos professores:
Anibal Thiele Diretor Irmão
Franciele Garghetti Professora de Biologia
Irmão Lando professor de Espanhol
Ademir Soligo Professor das Principais culturas agrícolas
Gerson Luiz Tonial Médico Veterinário professor de zootecnia
Ney Fachinelo Professor de Quimica
Luiz Roberto Bortoncello Admistrador e professor de Admistração rural, Construção e instalações
Gerson Batistella Professor de Agricultura especial
Osmar Petrolli Zootecnista e Professor de Ovinocultura, suinocultura e avicultura
Marli Goedel Professora de português]
Édina Ruaro Professora de Geografia
Tinhamos mais professores, mas não lembro o nome dos outros.